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Em 1992, quando fomos às ruas pra apear Collor do poder, fomos, como hoje, movimentados pela mesma revista Veja e pela mesma Rede Globo. A favor da nossa consciência, Collor cometeu o equívoco de ele mesmo se beneficiar do esquema de corrupção desenhado pelo seu tesoureiro Paulo César Farias. PC pagava contas pessoais do presidente e da primeira-dama com grana de propina. Uma CPI foi instaurada na Câmara e os deputados saíram com provas de que Collor, já na presidência, utilizava-se desse dinheiro para benefício próprio. Era o tal crime de responsabilidade que justificou seu impeachment: o presidente dolosamente e diretamente utilizava do seu cargo pra conseguir benefícios indevidos.
Piorou quando PC Farias e Collor
forjaram documentos pra tentar provar que a grana usada pras despesas do casal mandatário
vinha de um empréstimo do Uruguai. Virou falsificador.
Tirar Collor do poder foi pouco
traumático pra democracia brasileira, ainda cheirando a talco de neném, na sua
primeira eleição direta à presidência depois da acintosa ditadura militar que durou
mais de vinte anos. Itamar Franco assumiu, arrumou um plano econômico que
ajustou a moeda nacional e fez seu sucessor. Que se reelegeu. E que fez seu
sucessor. Que se reelegeu. E que fez sua sucessora. Que dois anos atrás também
se reelegeu.
Para então estarmos diante novamente
de um processo de impeachment. Diferentemente de Collor, Dilma não tem nada
contra. Nesse meio tempo, entre sucessores e reeleições, muitos escândalos de
corrupção apareceram. Teve o da reeleição, Banestado/Lava Jato, privataria
tucana, mensalão petista e mensalão tucano, petrolão/Lava Jato, HSBC, CAF,
Panama Papers e nada, em nenhum deles, o nome de Dilma aparece.
A sua chapa está enrolada em tramoias
envolvendo obras públicas e a Petrobras. Seu nome não aparece como beneficiária
direta de um centavo sequer. Ao contrário, seus delatores, seus acusadores e
seus opositores, grande parte deles, em especial os protagonistas (Eduardo
Cunha, presidente da Câmara; Renan Calheiros, do Senado; Michel Temer,
vice-presidente da República; Aécio Neves, líder da oposição etc.), estão todos
enrolados, indiciados ou acusados. Pois é, “a gente somos corruptos”.
Na falta de um crime tão
compreensível pra população como o de Collor, arrumaram um “crime fiscal” pra
justificar o injustificável, o golpe, a destituição de uma presidente eleita
pelo povo, democraticamente, legitimamente: as “pedaladas fiscais”, que a
grande maioria talvez nem entenda ou queira entender.
Dificultando a compreensão do
“crime”, entra a mídia pra inflar a ira da turba, pregando no partido da
presidente a pecha de bandido, o que para a grande massa acaba sendo a mesma
coisa. Ela não fez nada, mas as informações e a narrativa são para misturar
tudo num balaio só. Ela virou uma bandida sem crime. Já está condenada antes
mesmo de qualquer julgamento.
A chamam de ladra, de louca, de anta,
de nomes impronunciáveis. Uma covardia. Enquanto não se provar nada contra ela,
enquanto não tiver uma mísera prova de que ela é corrupta, o máximo que se pode
dizer dela é que Dilma é incompetente, mas isso vai da visão de cada um. Um
governo incompetente ou impopular se tira no voto, não por impeachment.
Acontece que os derrotados de 2014 não souberam esperar e inventaram uma série
de artimanhas para tirá-la do poder.
Primeiro, recontagem de votos. Deu em
nada. Depois, os crimes vinculados à Lava-Jato. Até agora, nada do nome dela
aparecer. Ainda existe a saída pelo Tribunal Superior Eleitoral, já que delação
premiada de um empreiteiro acusa sua chapa de usar dinheiro de propina na
eleição. Uma delação, nenhuma prova, por enquanto. É esperar.
Enquanto isso, arrumaram esse “crime
fiscal” que ninguém entende e forçam a barra para que achem que é roubo. Não é.
Nem crime é.
Não podemos ser a favor disso. O que
vale em resumo desse texto é: impeachment com crime não é golpe; sem crime, é.
O dela é golpe. Não há crime.
E há promessa de coisa pior: dessa
turma de golpistas, grande parte investigada e suspeitada pela Lava-Jato,
espera-se que as investigações sejam estancadas. Tirado o PT do poder,
encerra-se tudo, não investiga-se mais ninguém, já era, todo mundo se salva, e
ainda expulsa-se quem a mídia queria expulsar. Não é um processo contra
corrupção, portanto. Se fosse, Dilma não estaria nessa situação, já que ela não
é nem mesmo citada num escândalo em investigação.
Por incrível que pareça, doze anos
depois, por falta de provas, Collor foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal
dos crimes de peculato, falsidade ideológica e corrupção passiva. Um inocente
diante da Justiça. Ou um sortudo diante de uma polícia incompetente.
Não se pode dizer o mesmo agora. A
Polícia Federal tem autonomia, investiga, prende gente graúda (senadores,
empreiteiros), gente de grana. Mesmo assim, não chegou em nada que
comprometesse Dilma.
A sanha de poder dos golpistas não pode
encontrar eco em quem tem um pingo de razoabilidade. Músicos, jornalistas,
políticos, empresários, centrais sindicais, estudantes, juristas, cineastas,
atores, atrizes, escritores, rappers, tem muita gente contra esse processo. Nós
aqui, entre blogues, sites e selos musicais e arrobas do Twitter também
nos manifestamos contra o golpe.
Texto de Fernando
Augusto Lopes
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